domingo, 28 de fevereiro de 2016

Hipotireoidismo durante a gravidez: importância do diagnóstico e tratamento apropriados

O hipotireoidismo (diminuição da secreção de hormônios pela tireoide) também pode acontecer durante a gravidez e está associado a uma série de possíveis complicações.


Casos mais acentuados de hipotireoidismo, felizmente, são pouco frequentes durante a gestação (3 em 1.000 mulheres grávidas). Mulheres com hipotireoidismo têm dificuldade de engravidar por não ovularem. Além disso, aquelas que engravidam apresentam uma taxa alta de aborto espontâneo nas primeiras semanas de gestação. Contudo, naquelas que permanecem grávidas, o hipotireoidismo aumenta o risco de complicações. Entre elas:
- hipertensão gestacional e pré-eclâmpsia
- descolamento prematuro de placenta
- parto prematuro
- aumento da mortalidade perinatal
- dificuldades cognitivas no bebê
- hemorragia após o parto
A disfunção mínima da tireoide conhecida como hipotireoidismo subclínico é um pouco mais comum (cerca de 20 em 1.000 mulheres grávidas).  Apesar do risco menor, o hipotireoidismo subclínico também parece estar associado a complicações. Destacam-se o parto prematuro, a perda fetal e, possivelmente, redução do QI do bebê.
Como saber se há hipotireoidismo durante a gestação? Simples: basta dosar o TSH no sangue. A dosagem do TSH é indicada nas seguintes situações:
- sintomas de hipotireoidismo
- familiares com hipotireoidismo
- história de radioterapia na cabeça ou no pescoço
- infertilidade
- abortamentos prévios
- mais de 30 anos de idade
O tratamento do hipotireoidismo durante a gestação também é muito simples: reposição de hormônio tireoidiano (levotiroxina).
Se você está grávida e se encaixa em alguma das situações acima, procure seu obstetra ou endocrinologista e avalie sua função tireoidiana. Essa atitude pode garantir uma gestação tranquila e um parto feliz.

Referência:
1- Ross DS. Hypothyroidism during pregnancy: Clinical manifestations, diagnosis, and treatment. UpToDate. 
 
Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
Doutor e Mestre em Endocrinologia - UFRGS
CREMERS 30.576 - RQE 22.991


Texto revisado em 14 de maio de 2019.

Caldo de cana no esporte


O CALDO DE CANA ou garapa é a bebida extraída da moagem da cana de açúcar. É RICO EM CARBOIDRATOS, especialmente sacarose, e pobre em fibras. Isto quer dizer que tem alto índice glicêmico e pode ser usado como REPOSITOR ENERGÉTICO quando a necessidade de glicose é imediata. Seu uso é interessante por praticantes de esportes que exijam intenso trabalho aeróbico como o futebol ou natação, por exemplo. De quebra, o caldo de cana também fornece quantidades interessantes de ferro, manganês, magnésio, vitamina C e flavonoides, que são antioxidantes naturais. Estes últimos nutrientes podem ser interessantes no processo de recuperação da musculatura. Antes de começar a consumir o caldo de cana, procure seu médico ou nutricionista. Por tratar-se de uma BEBIDA BASTANTE CALÓRICA (200 mL tem cerca de 130 calorias), é importante que seja consumida no momento e na quantidade apropriada às suas necessidades.



Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576

Tâmara seca para turbinar o treino

A tâmara é a fruta de uma palmeira originária do Oriente Médio. A versão seca dessa frutinha é encontrada facilmente em supermercados, geralmente na seção das passas, com custo acessível. A tâmara é rica em CARBOIDRATOS COMPLEXOS e FIBRAS, logo é uma ótima fonte de energia para exercícios físicos que exijam esforço contínuo por período prologado, já que este tipo de carboidrato é de absorção lenta. Outro destaque é o alto teor de POTÁSSIO e CÁLCIO, minerais importantes para eficiência da musculatura. Uma porção de 7 a 9 unidades, já fornece energia suficiente para 1 hora de treino de intensidade leve a moderada. Converse com seu médico ou nutricionista para maiores informações sobre o consumo apropriado às suas necessidades.


Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576

Benefícios da sardinha enlatada na alimentação

A SARDINHA 🐟 em lata é o melhor exemplo de que não se precisa gastar uma nota 💸 para ter uma ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL. Por menos de 2 reais, você tem um alimento rico em PROTEÍNAS, gordura ÔMEGA 3, CÁLCIO e VITAMINA D. Para MULHERES no período perimenopausa que desejam manter a massa óssea 💀 em dia, a sardinha é uma ótima aliada. Quem está treinando para aumentar a massa muscular 💪🏻 também se beneficia do consumo regular. Uma dica para quem não gosta do sabor: tempere com limão, cúrcuma, pimenta ou cominho.


Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Vale a pena investir em sucos funcionais?

Hoje um texto um pouquinho diferente: também sou consumidor!
Andando entre as gôndolas do supermercado, garrafas bonitas (fotos abaixo) me chamaram a atenção. Quando o assunto é  "bebidas industrializadas", um embalagem bonita não costuma ser suficiente para me convencer que o produto é saudável. Para não comprar gato por lebre, sempre leio a lista de ingredientes e a tabela nutricional do produto. Diferente da grande maioria das bebidas de frutas disponíveis no comércio, estas realmente são sucos, isto é, são feitas exclusivamente com componentes vegetais, com exceção da versão suplementada com colágeno. Isto é algo bom, pois não há açúcar adicionado.




Na lista de ingredientes não encontrei conservantes: outro ponto positivo. No entanto, diferente dos sucos naturais, que são preparados com as frutas de verdade, as benéficas fibras estão praticamente ausentes nestas versões industrializadas. As fibras são importantes pois ajudam a diminuir o índice glicêmico da bebida, isto é, fazem com que os açúcares sejam absorvidos de maneira mais lenta, evitando assim picos de glicose na corrente sanguínea e hiperestimulação do pâncreas.
A versão com frutas vermelhas e roxas é a mais interessante. Morango, mirtilo, amora, framboesa, açaí e uvas escuras mostraram-se benéficas em diversos estudos. Seu potencial antioxidante protege inclusive os neurônios, ajudando a prevenir demências.
A versão dita "detox" é a que apresenta a maior lista de componentes vegetais. Contudo, não há evidência de que sucos ajudem a desintoxicar o  organismo. Intestino, fígado e rins costumam dar conta do recado. Dentro de uma alimentação balanceada, se substituir escolhas menos saudáveis, o suco pode dar uma força. Não por eliminar toxinas, mas por evitar o consumo destas.
A versão com colágeno é a menos interessante tanto pela falta de evidências sólidas de benefício quanto pela baixa concentração presente por porção nesta bebida. Para quem é vegetariano, esta versão com colágeno é um "pegadinha", diga-se de passagem.
Acabei colocando as três versões no carrinho e trazendo pra casa, apenas para experimentar. Como costumo comer regularmente as frutinhas vermelhas e roxas, não vejo vantagem em consumir este tipo de bebida. Quanto à versão "detox", prefiro evitar abusos alimentares, ter um alimentação balanceada e cuidar bem do meu fígado, intestino e rins. Por fim, um franguinho grelhado pode dar conta do colágeno de forma mais eficiente que um suco. E para matar a sede? Melhor é água! Bebidas saciam pouco. E as calorias extras podem virar quilos extras.
Em resumo, a relação custo benefício deste tipo de bebida não é das melhores. Muito dinheiro gasto para pouco retorno em saúde. Só vale a pena, se você estiver com intenção de levar refrigerantes ou néctares ("sucos" de caixinha) cheios de açúcar para casa.

Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576


domingo, 14 de fevereiro de 2016

Hipotireoidismo e obesidade: qual o tamanho da culpa da tireoide no excesso de peso?

Este é um dos conceitos mais equivocados não só na Endocrinologia como na Medicina: hipotireoidismo causa obesidade. Não é bem assim!
O hipotireoidismo é caracterizado pela diminuição na produção de hormônios pela tireoide. Os hormônios tireoidianos (T4 e T3) regulam diversas funções metabólicas do organismo, entre elas o manejo de substâncias chamadas glicosaminoglicanos. Quando ocorre deficiência dos hormônios tireoidianos, os glicosaminoglicanos se acumulam nos diferentes tecidos do corpo. Junto com esse acúmulo, ocorre retenção de água. Este é o ponto! Na realidade, a grande responsável pelo ganho de peso no hipotireoidismo é a água.


Diversos estudos mostram que o ganho de peso associado ao hipotireoidismo é discreto. A maioria das pessoas com hipotireoidismo no máximo 10% de peso, ou seja, cerca de 5 quilos.
Outra informação importante: mesmo indivíduos com hipotireoidismo grave, isto é, com valores muito baixos de hormônios tireoidianos, quando são devidamente tratados e acompanhados por período de 1 ano, perdem cerca de 4 quilos. A avaliação da composição corporal destes pacientes mostra que a diminuição do peso realmente ocorre por perda de água e não de gordura.
Além disso, pessoas com obesidade, geralmente estão mais de 15 quilos acima do peso. Ou seja, mesmo que se identifique hipotireoidismo nestes pacientes, o tratamento da disfunção tireoidiana unicamente não vai resolver o problema do excesso do peso.
Em resumo, quando se refere a excesso de peso, a tireoide, na maioria das vezes, tem pouca ou nenhuma culpa. E os verdadeiros culpados não podem passar despercebidos. A alimentação inapropriada e o sedentarismo devem ser identificados e combatidos. O sucesso do tratamento depende disso.

Referência:
1- Surks MI. Clinical manifestations of hypothyroidism. UpToDate.

O tratamento da HIPOTIREOIDISMO com levotiroxina pode causar ganho de peso?



Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
Doutor e Mestre em Endocrinologia - UFRGS
CREMERS 30.576 - RQE 22.991

Texto revisado em 5 de maio de 2019.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Tratamento do hipotireoidismo: existe espaço para reposição de T3?

A diminuição da produção de hormônio por parte da tireoide tem um tratamento simples, eficaz e barato: a reposição de T4 ou levotiroxina. No entanto, algumas pessoas (cerca de 10 por cento) ainda queixam sintomas mesmo quando a reposição parece estar adequada, com os níveis de TSH dentro da faixa terapêutica para o grupo etário do paciente. Esta observação levantou a hipótese que estas pessoas poderiam se beneficiar de outro tipo de abordagem, isto é, a reposição adicional de T3 ou liotironina. Alguns estudos já avaliaram este tratamento, vejamos os principais...
 
 

Uma extensa revisão da literatura selecionou 11 estudos com qualidade aceitável que comparavam reposição de T4 isolada a reposição de T4 + T3. Mais de 1200 pacientes foram avaliados quanto a dores no corpo, sintomas de depressão ou ansiedade, fadiga, qualidade de vida, peso, colesterol, triglicerídeos e efeitos adversos. Não houve diferença alguma entre os grupos, isto é, quanto a eficácia para alívio de sintomas, os tratamentos foram iguais.
Um estudo menor, com 141 pacientes, que também comparou a reposição de T4 isolada à reposição de T4 + T3, mostrou resultados parecidos com relação ao alívio de sintomas. No entanto, ao final do estudo, mais pacientes preferiram a terapia combinada. Um análise detalhada dos dados mostrou que 44 por cento dos pacientes que preferiram a terapia combinada ficaram discretamente hipertireoideos e consequentemente perderam em média 1,8 quilos de peso. Isto é, o desenvolvimento de hipertireoidismo decorrente do tratamento combinado, levou a perda de peso e esta percepção de "emagrecimento" fez os pacientes preferirem o tratamento combinado de T4 + T3. Aqui cabe a ressalva que a perda de peso foi consequência de tratamento excessivo, o que pode ser prejudicial a saúde em longo prazo.
Por fim, as preparações de T3 comercialmente disponíveis são de absorção rápida, isto é, após ingeridas, atingem com facilidade a corrente sanguínea. Devido a isto, existe muita flutuação nos níveis séricos de T3, o que pode tornar difícil o ajuste de dose. Alguns pacientes podem em virtude disso apresentar queda nos níveis de T4 e elevação do TSH, ou seja, tendência a piorar o hipotireoidismo.
Por fim, apesar do uso de T3 combinado ao T4 não ser útil para o tratamento da maioria dos pacientes com hipotireoidismo, talvez algumas pessoas possam se beneficiar desta terapia. Alguns pacientes com polimorfismos no gene da deionidase tipo 2 têm dificuldade na conversão do T4 em T3 no organismo. A reposição combinada de T4 + T3 nestes indivíduos foi favorável no alívio de sintomas. No entanto, os dados ainda são preliminares e precisam ser replicados para que se formalize esta indicação. Além disso, os testes genéticos para pesquisa dos polimorfismos da deionidase tipo 2 são poucos disponíveis fora do contexto de pesquisa e o simples exame clínico e laboratorial convencional não conseguem identificar corretamente os portadores da mutação.

Fontes:
1- Grozinsky-Glasberg S, Fraser A, Nahshoni E, Weizman A, Leibovici L. Thyroxine-triiodothyronine combination therapy versus thyroxine monotherapy for clinical hypothyroidism: meta-analysis of randomized controlled trials. J Clin Endocrinol Metab. 2006;91(7):2592.
2- Appelhof BC, Fliers E, Wekking EM, Schene AH, Huyser J, Tijssen JG, Endert E, van Weert HC, Wiersinga WM. Combined therapy with levothyroxine and liothyronine in two ratios, compared with levothyroxine monotherapy in primary hypothyroidism: a double-blind, randomized, controlled clinical trial. J Clin Endocrinol Metab. 2005;90(5):2666.
3- Panicker V, Saravanan P, Vaidya B, Evans J, Hattersley AT, Frayling TM, Dayan CM. Common variation in the DIO2 gene predicts baseline psychological well-being and response to combination thyroxine plus triiodothyronine therapy in hypothyroid patients. J Clin Endocrinol Metab. 2009;94(5):1623.
 
 
Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576