domingo, 23 de outubro de 2016

Câncer de mama e diabetes mellitus

O Outubro Rosa é a época do ano em que se chama mais a atenção para o câncer de mama, a neoplasia maligna mais comum em mulheres. Cerca de 16 por cento das pacientes acometidas pelo câncer de mama também têm diagnóstico de diabetes mellitus. Mas será que o diabetes aumenta o risco ou piora o prognóstico do câncer de mama?



Há mais de um século sabemos que o diabetes mellitus está associado a alguns tipos de câncer, como pâncreas e endométrio. Contudo, a associação com o câncer de mama parece ser mais complexa e algumas questões permanecem sem respostas definitivas. Tanto o câncer de mama quanto o diabetes compartilham fatores de risco em comum. Obesidade e idade avançada aumentam a chance de desenvolver ambas as doenças. Existem pelo menos 3 possíveis mecanismos que ajudam a explicar uma possível associação do câncer de mama com o diabetes.
Pacientes diabéticas do tipo 2 apresentam resistência a ação da insulina e, pelo menos em fases iniciais da doença, excesso de produção de insulina. Existem receptores de insulina (IR) no tecido mamário. A ativação destes receptores pode ativar a proliferação desordenada de células mamárias em alguns casos. Alguns estudos sugerem uma maior expressão dos IR em tumores mamários.
Existe um segundo tipo de receptor, chamado receptor para o IGF1 (IGF1R), que também é capaz de estimular a proliferação celular em algumas circunstâncias. Este receptor tem uma semelhança de 55% com o receptor da insulina. Além disso, o IGF1R e o IR podem se hibridizar, isto é, os dois receptores podem se combinar em um só. Talvez os níveis elevados de insulina possam também estimular o IGF1R e levar a proliferação celular.
Por fim, o diabetes aumenta a produção de estrogênios e androgênios especialmente nas suas formas livres, pois diminui os níveis da SHBG, proteína que se liga a estes hormônios. Como o câncer de mama é sabidamente hormônio dependente, o diabetes poderia aumentar o risco desta neoplasia também por esta via.
Contudo, apesar de evidências de que a associação entre câncer de mama e diabetes exista, ainda não podemos afirmar que o diabetes por si só seja fator causal, já que, como dito anteriormente, as duas doenças compartilham fatores de risco. Além disso, o possível aumento de risco de câncer entre 10 e 20 por cento em mulheres diabéticas não vale para as pacientes com diabetes mellitus do tipo 1. Apenas pacientes com diabetes decorrente de aumento da resistência a ação da insulina (tipo 2 e diabetes gestacional) parecem ter aumento no risco de câncer de mama. 
De qualquer forma, as pacientes portadoras de diabetes mellitus de qualquer tipo devem mais do que qualquer mulher ser orientadas a participar dos programas de rastreamento do câncer com mamografia. Outro ponto importante é a assistência médica diferenciada no caso de diagnóstico do câncer de mama. As pacientes diabéticas têm potencial maior de apresentarem complicações cirúrgicas, da radioterapia e da quimioterapia. Logo, o contato direto e constante do mastologista, do oncologista e do endocrinologista é imprescindível para o sucesso do tratamento.
Fonte:
1- Wolf I, Sadetzki S, Catane R, Karasik A, Kaufman B. Diabetes mellitus and breast cancer. Lancet Oncol. 2005;6(2):103

Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Café e hormônio da tireoide

Pacientes com diagnóstico de hipotireoidismo precisam receber reposição de hormônio tireoidiano, a levotiroxina. Para garantir a boa absorção do medicamento, o comprimido deve ser ingerido ao acordar, em jejum, com um copo de água. Além disso, deve-se esperar de 30 a 60 minutos para comer.



Uma pergunta muito frequente é: "Já que não posso comer por 30 a 60 minutos, posso ao menos tomar uma xícara de café?" Não! Vamos entender por quê...
Um grupo de pesquisadores italianos estudou o efeito da ingestão do café na absorção da levotiroxina. Para isso, avaliou os níveis sanguíneos do hormônio tireoidiano durante um período de 4 horas após a ingestão do comprimido. Em momentos diferentes, os voluntários da pesquisa ingeriram 100 mcg de levotiroxina com água, café ou água seguida de café após 60 minutos de intervalo. As pessoas que ingeriram os comprimidos juntamente com o café apresentaram uma redução na absorção de 27 a 36 por cento. É como se tivessem tomado apenas 2/3 da dose do comprimido! O consumo de café após 60 minutos não interferiu na absorção do hormônio tireoidiano.
Logo, além de não comer no intervalo de 30 a 60 minutos após a ingestão da levotiroxina, o paciente com hipotireoidismo deve evitar o consumo de café, já que esta bebida pode interferir na absorção do medicamento e dificultar o ajuste da dose da medicação.

Fonte:
1- Benvenga S, Bartolone L, Pappalardo MA, Russo A, Lapa D, Giorgianni G, Saraceno G, Trimarchi F. Altered intestinal absorption of L-thyroxine caused by coffee. Thyroid. 2008;18(3):293.

Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576