Não adianta querer tomar
insulina na forma de comprimidos. Sua molécula, um polipetídeo, seria digerida no nosso estômago antes que pudesse ter qualquer efeito significativo nos níveis glicêmicos. A via oral apesar de prática, infelizmente não é viável. Outras vias de administração têm sido estudadas além da
tradicional injeção. Transdérmica, bucal, nasal e... pulmonar, a mais promissora delas, que está chegando ao Brasil em 2019.
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Dispositivo de inalação da insulina tecnosfera (Afrezza) |
De uma forma bem simplificada, a insulina tecnosfera (nome comercial Afrezza) consiste de um pó seco que libera insulina regular diretamente na circulação pulmonar após a inalação através de um dispositivo muito parecido com os usados por pacientes asmáticos ou com DPOC. Sem seringas! Farmacologicamente, trata-se de uma insulina prandial, isto é, para ser usada antes das refeições, já que tem início de ação rápido (15 minutos) e duração curta (efeito máximo de 2 a 3 horas).
A insulina inalável já foi testada em pacientes com
diabetes mellitus tipo 1 e
tipo 2 sempre em substituição às insulinas prandiais. Nos estudos, seu uso está associado a menor ganho de peso e a menos
hipoglicemias. No entanto, a eficácia no controle glicêmico parece ser menor que no tratamento usual, já que menos pacientes atingem alvos de
hemoglobina glicada abaixo de 7 por cento. Além disso, os pacientes com diabetes tipo 1 apresentam risco de cetoacidose diabética até 4 vezes maior. Durante os estudos, mais pacientes reportaram satisfação com o uso da insulina inalável do que com as seringas. Mas não temos a comparação com outros tipos de dispositivos (canetas ou bombas de infusão).
E quem é candidato a usar a "insulina sem picadas”? Estima-se que 6 em cada 10 pacientes com diabetes com indicação ao uso de insulinas prandiais possam optar pela insulina inalável. Fumantes, portadores de doenças pulmonares crônicas como asma e DPOC, que tenha espirometria alterada (FEV1 < 70 por cento) têm contraindicação ao uso.
Os efeitos adversos mais comuns da insulina inalada são tosse seca (44 por cento dos pacientes) e queda progressiva na função pulmonar, que deve ser acompanhada regularmente.
Nos Estados Unidos, apesar da grande expectativa de médicos e pacientes, a maior satisfação descrita nos estudos não se refletiu em maior aceitação do tratamento. Custo alto e dificuldades no ajuste posológico, o que dificulta o ótimo controle glicêmico, talvez expliquem estes achados. Nem tudo que reluz é ouro, não é mesmo?
Referência:
1- Pittas AG. Inhaled insulin therapy in diabetes mellitus. UpToDate.
Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
Doutor e Mestre em Endocrinologia - UFRGS
CREMERS 30.576 - RQE 22.991