sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Uso do iodo radioativo no tratamento do hipertireoidismo

A radioatividade costuma gerar confusão no imaginário popular. Átomos radioativos são largamente utilizados pela Medicina tanto em exames quanto em tratamentos. O I-131, isótopo radioativo do iodo, pode ser usado no tratamento do hipertireoidismo com excelentes resultados quando tomados os devidos cuidados. A propósito, o iodo radioativo não é o mesmo iodo do sal de cozinho ou da solução de lugol. Que fique claro!



O I-131, prescrito pelo médico endocrinologista, pode ser administrado por via oral na forma líquida ou através de cápsulas em clínicas de medicina nuclear - não pode ser comprado em farmácias. Após a ingestão, o iodo é rapidamente concentrado pela tireoide. A emissão de partículas beta pelos átomos radioativos danifica o tecido tireoidiano, logo, por consequência, a produção hormonal diminui dentro de 6 a 18 semanas.
O radioiodo pode ser usado nos quadros de hipertireoidismo causados por doença de Graves (bócio difuso tóxico), adenomas tóxicos (nódulos únicos produtores de hormônio) ou bócios multinodulares tóxicos. Ao prescrever o tratamento o endocrinologista deverá atentar para duas possíveis contraindicações: gravidez e presença de orbitopatia de Graves moderada a grave.
A tireoide do feto já está presente por volta de décima semana de gestação. O uso inadvertido do I-131 em uma gestante pode destruir a tireoide do bebê e resultar em um quadro de hipotireoidismo congênito grave chamado de cretinismo. Por isso, recomenda-se a realização do teste de gravidez em mulheres em idade fértil candidatas ao tratamento com radioiodo. Além disso, o iodo tende a se concentrar nas glândulas mamárias. Logo, nutrizes precisam ter parado de amamentar por pelo menos 6 a 12 semanas para receber o tratamento com segurança.
Os pacientes com doença de Graves e inflamação dos tecidos ao redor dos olhos - orbitopatia - também merecem atenção especial. Quando a atividade inflamatória é leve, o iodo pode ser usado, preferencialmente junto com um corticoide. No entanto, o uso do radioiodo não é recomendado em pacientes com inflamação importante dos olhos ou com risco de perder a visão, já que pode agravar a situação.
Respeitados estes requisitos, o uso do I-131 costuma ser bem tolerado e a maioria dos pacientes melhora do hipertireoidismo após 4 semanas. O hipotireoidismo - perda de função da glândula - é bastante comum após o tratamento. Por isso, todo paciente que fez tratamento com iodo radioativo deve avaliar regularmente a função tireoidiana e iniciar reposição hormonal com levotiroxina, se houver necessidade.

Fonte: Radioiodine in the treatment of hyperthyroidism

Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
Doutor em Endocrinologia
CREMERS 30.576 - RQE 22.991

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Orbitopatia de Graves: a doença dos olhos associada ao hipertireoidismo

A orbitopatia ou oftalmopatia de Graves é uma doença autoimune dos tecidos retro-orbitários. Eventualmente, o sistema imunológico ataca de forma inapropriada os tecidos do nosso organismo. Na orbitopatia de Graves, esse ataque causa inflamação e lesão nos músculos e tecidos localizados atrás dos olhos. Um de cada 4 pacientes com hipertireoidismo causado por bócio difuso tóxico ou Doença de Graves pode ter comprometimento ocular.
Alguns pacientes parecem estar mais predispostos ao aparecimento da orbitopatia de Graves. Mulheres, pacientes com história familiar da doença ou que fizeram tratamento do hipertireoidismo com iodo radioativo, fumantes, idosos e pessoas com níveis elevados de anticorpos contra o receptor do TSH (TRAb) têm risco maior de comprometimento dos olhos.



O paciente com orbitopatia de Graves pode não ter sintomas e apenas perceber que o olho está mais saltado. Contudo, irritação, desconforto ou dor nos olhos, lacrimejamento excessivo, visão dupla ou borrada, inchaço e vermelhidão nas pálpebras podem aparecer. Em casos graves, pode haver perda da visão.
O paciente com hipertireoidismo e estas queixas deve ser prontamente avaliado pelo endocrinologista e, em alguns casos, pelo oftalmologista para confirmar o diagnóstico e instituir o tratamento. Este consiste em evitar o cigarro, tratar o hipertireoidismo, uso de colírios lubrificantes e, em alguns casos, uso de corticoides, radioterapia ou mesmo cirurgia.

Fonte: UpToDate On Line

Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
Doutor em Endocrinologia
CREMERS 30.576 - RQE 22.991

domingo, 17 de dezembro de 2017

Síndrome de Cushing ou hipercortisolismo: perguntas e respostas

O que é síndrome de Cushing?

A síndrome de Cushing ou hipercortisolismo é uma condição que pode ser causa de diferentes problemas médicos, incluindo ganho de peso, fragilidade óssea, fraqueza muscular e pressão alta.
O excesso do hormônio conhecido como cortisol é a causa da síndrome de Cushing. Em condições normais, o cortisol auxilia o organismo em funções como regulação do metabolismo e do sistema imunológico. Contudo, quando em excesso, o cortisol pode causar sintomas.
O cortisol é produzido pelas glândulas adrenais, pequenos órgãos localizados acima de cada rim (figura). Normalmente, as glândulas adrenais produzem cortisol após receber “ordem” da glândula hipófise. Esta está localizada abaixo do cérebro.



Quais são as causas da síndrome de Cushing?

A síndrome de Cushing pode ser causada por:
– medicamentos que agem como o cortisol, também chamados de corticoides: pessoas asmáticas ou com reumatismo podem precisar fazer uso de doses elevadas deste tipo de medicamento.
tumores na hipófise ou em outras partes do corpo: estes tumores podem “ordenar” que as glândulas adrenais produzam cortisol em excesso.
– problemas nas próprias glândulas adrenais que as levem a produzir cortisol demais.

Quais são os sintomas da síndrome de Cushing?

Pacientes com síndrome de Cushing podem apresentar um ou mais dos sintomas/sinais a seguir:
– ganho de peso no rosto, pescoço, costas e cintura.
– pele fina que machuca com facilidade.
– estrias largas e de cor violeta.
– menstruação irregular ou ausente.
– aumento dos pelos (hirsutismo), oleosidade e acne.
– fraqueza muscular em braços e pernas. O paciente tem dificuldade em levantar-se de uma cadeira.
– fragilidade dos ossos e fraturas.
diabetes mellitus (aumento do açúcar no sangue).
– pressão alta e problemas cardíacos.
– mudanças no humor como depressão e irritação.
– infecções frequentes.
– formação de coágulos (trombose) nas pernas.
Pessoas diferentes podem ter sintomas diferentes. Quando a doença não é tratada, os sintomas podem piorar e causar risco de morte.

Como é feito o diagnóstico da síndrome de Cushing?

O diagnóstico é feito através da história e do exame clínico detalhados e através da dosagem do cortisol no sangue, urina ou saliva. Quando estes primeiros exames vêm alterados podem ser necessários outros, como testes diagnósticos com hormônios ou remédios, tomografia das adrenais, ressonância magnética da hipófise e até mesmo cateterismo dos vasos dessas glândulas.

Como é feito o tratamento da síndrome de Cushing?

O tratamento depende da causa e pode ser desde uma simples redução progressiva na dose dos corticoides, até cirurgias da hipófise ou das adrenais, uso de medicamentos ou radioterapia.
Muitas pessoas ficam curadas após o tratamento. Contudo, outras precisam fazer uso contínuo de medicamento para manter a síndrome de Cushing controlada.

Fonte: UpToDate On Line

Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
Doutor em Endocrinologia
CREMERS 30.576 - RQE 22.991

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Risco de complicações em pacientes com esteatose hepática

Não é só "uma gordurinha no fígado". A doença hepática gordurosa não alcoólica (NAFLD em inglês) - conhecida pelos leigos como esteatose hepática - pode trazer consigo complicações graves. Estima-se que uma em cada quatro pessoas tenha o diagnóstico de fígado gorduroso. ...Dá para ter ideia do tamanho do problema...



Nas últimas duas décadas, o conhecimento sobre a NAFLD avançou bastante, especialmente nos casos onde existem evidências de fibrose - cicatrização inapropriada - do fígado. Estes estudos nos mostram o seguinte:
  • pacientes com esteatose hepática apresentam maior risco de morrer.
  • a causa mais comum de morte nos pacientes com NAFLD é a doença cardiovascular.
  • embora a preocupação maior seja com o fígado, as causas hepáticas de morte aparecem apenas em segundo ou terceiro lugar nas estatísticas.
  • pacientes com NAFLD apresentam maior risco de morrer por câncer.
  • o fígado gorduroso já é considerado a terceira causa mais comum de carcinoma hepatocelular - câncer de fígado - nos Estados Unidos. A explicação para este fato é a epidemia de obesidade, que acaba elevando os casos de câncer de fígado relacionados a NAFLD em 9 por cento ao ano.
  • o câncer de fígado nos pacientes com esteatose tem pior prognóstico, já que idade avançada e doenças cardíacas são frequentes nesta população.
  • o carcinoma hepatocelular pode dar as caras mesmo na ausência de cirrose. Isso acontece em torno de 13 por cento dos casos.
  • a NAFLD é a segunda causa mais comum de transplante hepático e, dentro de pouco tempo, deverá assumir a primeira posição. O tratamento das hepatites virais com tratamentos altamente curativos explica esta tendência.
  • a cada ano, 44 de cada 100.000 pacientes com esteatose desenvolve câncer de fígado.

Apesar dos achados preocupantes, o manejo desta doença também está evoluindo, inclusive com o desenvolvimento de novos medicamentos. Contudo, a mudança do estilo de vida e a redução do peso ainda são a base do tratamento.

Fonte: Chalasani N, et al. The Diagnosis and Management os Nonalcoholic Fatty Liver Disease: Practice Guidance From the American Association for Study of Liver Diseases. Hepatology, vol 00, n 00, 2017.

Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
Doutor em Endocrinologia
CREMERS 30.576 - RQE 22.991