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quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Quais as possíveis causas do hipotireoidismo?

O hipotireoidismo - diminuição da secreção de hormônio pela tireoide - pode ter diversas causas. Vamos conhecê-las:



Tireoidite autoimune crônica

Também conhecida como tireoidite de Hashimoto, é a principal causa de hipotireoidismo. Nesta doença o nosso sistema imunológico ataca indevidamente a tireoide causando sua destruição e, consequentemente, diminuição progressiva na produção hormonal.


Iatrogênico

Algumas vezes o tratamento de outras doenças acaba afetando a produção hormonal da tireoide. Por exemplo, um paciente que recebe indicação de cirurgia tireoidiana por nódulos que causam sintomas compressivos pode necessitar de reposição hormonal após o procedimento.
Também podem desenvolver hipotireoidismo pacientes que fazem tratamento de HIPERtireoidismo com iodo radioativo, ou que precisam fazer radioterapia na região da cabeça e pescoço.


Deficiência ou excesso de iodo

Nossa tireoide usa iodo para produzir o T4 e o T3 (hormônios tireoidianos). Deficiência - pouco comum no Brasil - ou excesso de iodo podem desregular a produção hormonal e induzir hipotireoidismo.
O uso de gotas de lugol ou solução SSKI por serem extremamente concentradas em iodo muitas vezes acabam desencadeando quadros de hipotireodismo em pessoas predispostas através da inibição do organificação do iodo (efeito Wolff-Chaikoff).


Medicamentos

Alguns medicamentos podem desencadear hipotireoidismo por diversos mecanismos. Destacam-se: tionamidas (propiltiuracil e metimazol), lítio, amiodarona, interferon alfa, interleucina 2, inibidores da tirosina quinase e alguns imunoterápicos (estes dois últimos são usados no tratamento de alguns tipos de câncer).


Doenças infiltrativas

Hemocromatose, tireoidite fibrosante e sarcoidose, felizmente, são causas raras de hipotireoidismo.


Hipotireoidismo transitório

Em algumas situações o quadro de hipotireoidismo é autolimitado, isto é, melhora sem tratamento após período de tempo variável.
As tireoidites silenciosa, subaguda e pós-parto são doenças que lesam o tecido tireoidiano. Como consequência, os estoques hormonais são liberados na corrente sanguínea causando HIPERtireoidismo no início do quadro. Após alguns dias ou semanas, os níveis hormonais caem e se instala o HIPOtireoidismo, que costuma ir melhorando a medida que a tireoide recupera sua capacidade de produção hormonal.


Hipotireoidismo congênito

Algumas crianças já nascem com hipotireoidismo. Má formação da tireoide ou defeitos na produção hormonal são possíveis causas. Felizmente, o teste do pezinho detecta precocemente estes casos, permitindo que o tratamento seja precoce e que se evite sequelas como retardo mental.


Hipotireoidismo central e resistência generalizada aos hormônios tireoidianos

São as causas mais raras de hipotireoidismo. No hipotireoidismo central, a hipófise ou o hipotálamo não enviam a ordem (TSH ou TRH) para que a tireoide produza seus hormônios.
Já na resistência generalizada aos hormônios tireoidianos, a tireoide costuma produzir níveis elevados de hormônios. Porém os receptores hormonais localizados nos diferentes tecidos não funcionam direito. É como se a chave (T4 e T3) não encaixasse na fechadura (células do nosso organismo).

Referência:
1- Ross DS. Disorders that cause hypothyroidism. UpToDate.

Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista titulado pela SBEM
Doutor e Mestre em Endocrinologia pela UFRGS
CREMERS 30.576 - RQE 22.991

domingo, 1 de julho de 2018

Tumores de hipófise descobertos ao acaso: incidentalomas de hipófise

A hipófise, também conhecida como "glândula mestra", está localizada embaixo do cérebro, logo atrás dos olhos. É responsável por controlar a secreção hormonal de outras glândulas, como a tireoide, as adrenais, os ovários e os testículos. Também produz a prolactina - o hormônio da amamentação.
A tomografia computadorizada e a ressonância magnética estão cada vez mais acessíveis. Algumas vezes, estes exames são solicitados por diferentes motivos, mas acabam mostrando alguma alteração na hipófise. Por exemplo, um neurologista pode solicitar uma tomografia do crânio para avaliar sintomas de perda de memória, mas acaba encontrando um tumor na hipófise. Chamamos de incidentalomas estas lesões descobertas ao acaso.



Os incidentalomas hipofisários são muito comuns e podem ser encontrados em até três de cada dez exames de imagem da cabeça. Estas lesões podem ser classificadas em dois grupos conforme os seus tamanhos.
As lesões de até 10 milímetros têm menor probabilidade de produzir hormônios, aumentar de tamanho ou produzir sintomas. Pacientes com este tipo de lesão devem ser avaliados clinicamente e dosar no sangue apenas a prolactina ou o hormônio que se desconfia estar aumentado. No caso de haver qualquer tipo de produção hormonal, trata-se o paciente. Caso contrário, apenas reavaliações periódicas são necessárias.
Quando a lesão tem mais de 10 milímetros, mesmo que o paciente não apresente sintomas, precisamos saber se a hipófise está produzindo tanto hormônios para mais quanto para menos. Além disso, como a glândula fica bem próxima dos nervos dos olhos, o paciente também precisa ser avaliado pelo oftalmologista. Quando o tumor produz hormônios ou ameaça a visão, deve ser tratado. Quando assintomático, é reavaliado periodicamente a cada seis ou 12 meses.
Se necessário, o tratamento vai depender do tipo de hormônio que a hipófise está produzindo em excesso e se há comprometimento da visão ou compressão de outras estruturas dentro da cabeça. Em alguns casos há necessidade de cirurgia. Em outros, medicamentos em comprimidos ou injetáveis poderão ser utilizados.

Fonte: UpToDate.

Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
Doutor em Endocrinologia
CREMERS 30.576 - RQE 22.991

domingo, 17 de dezembro de 2017

Síndrome de Cushing ou hipercortisolismo: perguntas e respostas

O que é síndrome de Cushing?

A síndrome de Cushing ou hipercortisolismo é uma condição que pode ser causa de diferentes problemas médicos, incluindo ganho de peso, fragilidade óssea, fraqueza muscular e pressão alta.
O excesso do hormônio conhecido como cortisol é a causa da síndrome de Cushing. Em condições normais, o cortisol auxilia o organismo em funções como regulação do metabolismo e do sistema imunológico. Contudo, quando em excesso, o cortisol pode causar sintomas.
O cortisol é produzido pelas glândulas adrenais, pequenos órgãos localizados acima de cada rim (figura). Normalmente, as glândulas adrenais produzem cortisol após receber “ordem” da glândula hipófise. Esta está localizada abaixo do cérebro.



Quais são as causas da síndrome de Cushing?

A síndrome de Cushing pode ser causada por:
– medicamentos que agem como o cortisol, também chamados de corticoides: pessoas asmáticas ou com reumatismo podem precisar fazer uso de doses elevadas deste tipo de medicamento.
tumores na hipófise ou em outras partes do corpo: estes tumores podem “ordenar” que as glândulas adrenais produzam cortisol em excesso.
– problemas nas próprias glândulas adrenais que as levem a produzir cortisol demais.

Quais são os sintomas da síndrome de Cushing?

Pacientes com síndrome de Cushing podem apresentar um ou mais dos sintomas/sinais a seguir:
– ganho de peso no rosto, pescoço, costas e cintura.
– pele fina que machuca com facilidade.
– estrias largas e de cor violeta.
– menstruação irregular ou ausente.
– aumento dos pelos (hirsutismo), oleosidade e acne.
– fraqueza muscular em braços e pernas. O paciente tem dificuldade em levantar-se de uma cadeira.
– fragilidade dos ossos e fraturas.
diabetes mellitus (aumento do açúcar no sangue).
– pressão alta e problemas cardíacos.
– mudanças no humor como depressão e irritação.
– infecções frequentes.
– formação de coágulos (trombose) nas pernas.
Pessoas diferentes podem ter sintomas diferentes. Quando a doença não é tratada, os sintomas podem piorar e causar risco de morte.

Como é feito o diagnóstico da síndrome de Cushing?

O diagnóstico é feito através da história e do exame clínico detalhados e através da dosagem do cortisol no sangue, urina ou saliva. Quando estes primeiros exames vêm alterados podem ser necessários outros, como testes diagnósticos com hormônios ou remédios, tomografia das adrenais, ressonância magnética da hipófise e até mesmo cateterismo dos vasos dessas glândulas.

Como é feito o tratamento da síndrome de Cushing?

O tratamento depende da causa e pode ser desde uma simples redução progressiva na dose dos corticoides, até cirurgias da hipófise ou das adrenais, uso de medicamentos ou radioterapia.
Muitas pessoas ficam curadas após o tratamento. Contudo, outras precisam fazer uso contínuo de medicamento para manter a síndrome de Cushing controlada.

Fonte: UpToDate On Line

Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
Doutor em Endocrinologia
CREMERS 30.576 - RQE 22.991

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Lítio e tireoide

O lítio, na forma de carbonato, é amplamente utilizado dentro da psiquiatria como tratamento para transtornos do humor. No entanto, seu uso pode se associar a problemas na tireoide, especialmente bócio e hipotireoidismo. Vamos entender como isso acontece…


O mecanismo pelo qual o lítio interfere no funcionamento da tireoide ainda não é bem compreendido. Alguns estudos em seres humanos e animais demonstram que o lítio aumenta a quantidade de iodo dentro da tireoide. Além disso, tanto a fabricação quando a liberação dos hormônios tireoidianos (T4 e T3) pode ser prejudicada. Ora, dito isso, fica mais fácil de entender o porquê do bócio e do hipotireoidismo.
Como menor liberação do T4 e do T3, nossa hipófise aumenta a secreção do TSH, hormônio que estimula a tireoide (veja na figura). O TSH por sua vez faz com que a tireoide aumente de tamanho para compensar a produção de T4 e T3 diminuída. Quando este crescimento da glândula é significativo, chamamos de bócio. Entre 40 e 50 por cento dos usuários de lítio podem desenvolver bócio.
Quando o aumento do TSH não é capaz de compensar a diminuição da produção de T4 e T3 induzida pelo uso de lítio, o paciente pode desenvolver hipotireoidismo. Assim como no bócio, até metade dos usuários de lítio pode desenvolver hipotireoidismo, que na maioria das vezes é subclínico, isto é, leve.
Tanto o bócio quanto o hipotireoidismo costumam dar as caras nos primeiros dois anos de uso do lítio. E como ambas são complicações frequentes, é recomendada uma avaliação tireoidiana antes do início do tratamento com lítio. Esta avaliação é bem simples. Consiste em exame clínico (inspeção e palpação da tireoide), seguida por avaliação laboratorial (dosagem do TSH e do anti-TPO). Quando está tudo em ordem, o paciente deve ser reavaliado em intervalos regulares a cada 6 ou 12 meses.
Disfunção tireoidiana ou presença de bócio não contraindicam o uso do lítio. Se qualquer alteração no volume ou no funcionamento da tireoide são identificados antes ou durante o tratamento, o uso do lítio pode ser continuado e a doença tireoidiana é manejada a parte. Logo, a comunicação entre psiquiatra e endocrinologista é parte essencial do cuidado ao paciente com transtorno de humor. 

Fonte: Lithium and the thyroid – UpToDate Online

Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
Doutor em Endocrinologia
CREMERS 30.576 - RQE 22.991

segunda-feira, 25 de julho de 2016

O que causa a síndrome dos ovários policísticos?

A síndrome dos ovários policísticos, ou simplesmente SOP, é uma condição que acomete mulheres em idade fértil, caracterizada por problemas na ovulação, excesso de hormônios androgênicos ou de sua atividade (hiperandrogenismo) e aparência policística dos ovários. Os ovários de tamanho aumentado e com vários pequenos cistos, apesar de darem nome à síndrome, não são o critério diagnóstico mais importante nem obrigatório. Para o diagnóstico, basta que estejam presentes a disfunção ovulatória, que se manifesta por irregularidade menstrual, e o hiperandrogenismo, que pode se manifestar por hirsutismo (excesso de pelos de padrão masculino). Outras doenças com quadro parecido também devem ser excluídas. Mas o que causa a SOP?



A SOP não tem uma única causa. É considerada uma desordem poligênica com influência de fatores ambientais, especialmente da obesidade. Ou seja, a SOP tem causas genéticas, que não podem ser modificadas, e ambientais que podem ser abordadas com o tratamento. Muitos genes já foram implicados com a SOP. E a atividade destes genes parece ser programada pelo ambiente e pelos hormônios. Mas como isto acontece?
A região do cérebro conhecida como hipotálamo é responsável por estimular a glândula hipófise a produzir os hormônios FSH e LH, responsáveis por controlar o ciclo menstrual. Conforme a "ordem" hipotalâmica, a hipófise pode produzir mais FSH ou LH dependendo da fase do ciclo menstrual. Nas mulheres com SOP, existe uma produção maior de LH. Além do excesso de LH, anormalidades genéticas tornam os receptores ovarianos para este hormônio mais sensíveis. Isto leva a uma maior produção de androgênios, especialmente a testosterona, pelo ovários. Além disso, a obesidade, frequentemente presente, eleva os níveis de insulina. A insulina em excesso estimula os ovários e as adrenais a produzirem mais androgênios. Por fim, tanto o excesso de insulina quanto de androgênios atuam sobre o fígado levando a redução na produção da SHBG, proteína responsável por transportar e, de certa forma, limitar a ação dos hormônios sexuais. Com menos SHBG, os androgênios circulam e agem livremente. O excesso de androgênios estimula mais secreção de LH, favorece mais ganho de gordura e mais aumento nos níveis de insulina. Assim tem-se um ciclo vicioso, onde o hiperandrogenismo acaba sendo causa e consequência da síndrome, levando as suas diferentes manifestações clínicas.
Apesar do mecanismo complexo da SOP, a avaliação e o tratamento costumam ser simples, quando feitos por profissional habilitado. Abordaremos estes temas em outra oportunidade.

Fonte:  McCartney CR, Marshall JC. CLINICAL PRACTICE. Polycystic Ovary Syndrome. N Engl J Med. 2016 Jul 7;375(1):54-64.

Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576

sábado, 16 de julho de 2016

Avaliação endocrinológica dos problemas de ereção

Define-se como disfunção erétil (anteriormente conhecida como "impotência sexual"), a incapacidade de ter ou manter a ereção por tempo suficiente para o ato sexual. Durante o sexo, para que a ereção ocorra, uma série de pré-requisitos deve ser satisfeita. O homem deve ter desejo sexual (libido) e o sistema vascular deve estar funcionando apropriadamente, para levar sangue das artérias ilíacas até os corpos cavernosos do pênis, assim com os nervos. Problemas psicológicos, hormonais e metabólicos, vasculares e neuronais, além do uso de certos medicamentos ou substâncias podem levar a disfunção erétil.


A avaliação do paciente com disfunção erétil começa através da história. Por exemplo, a perda de libido pode estar associada a distúrbios hormonais como aumento de prolactina ou redução da testosterona. Já a ausência de ereções durante a noite levanta a suspeita de problemas vasculares e neurológicos. Por outro lado, problemas com ereção de início abrupto podem ter origem psicológica.
Outros dados importantes da história são:
– comorbidades do paciente: já que doenças cardíacas e diabetes mellitus podem estar associados a problemas de ereção;
– medicações em uso: alguns medicamentos como antidepressivos ou o uso indevido de esteroides anabolizantes podem ser causa de disfunção erétil;
– avaliação psicológica: uma vez que depressão e ansiedade podem levar a dificuldades de ereção.
Um exame físico detalhado também dá dicas das possíveis causas. Por exemplo, o aumento do volume mamário (ginecomastia) ou redução do volume dos testículos sugere deficiência de testosterona.
Alguns exames laboratoriais devem ser pedidos, entre eles a avaliação hormonal. Dos pacientes com disfunção erétil até 30% tem algum tipo de distúrbio hormonal como testosterona baixa, prolactina alta ou problemas de tireoide. Além disso, até metade dos pacientes diabéticos tem problemas de ereção.
Muitas vezes a disfunção erétil é apenas a ponta do iceberg. Sabe-se que o paciente com problemas de ereção tem um risco de desenvolver problemas cardíacos cerca de 25% maior comparado aos homens sem esse problema. Isso acontece porque a disfunção erétil e as doenças cardiovasculares têm causas em comum como o diabetes, a pressão alta e a elevação dos níveis de colesterol.
Se você é homem e tem problemas de ereção, deixe o preconceito de lado e procure o endocrinologista ou urologista para uma avaliação. Em várias ocasiões, a disfunção erétil é apenas um indicador de um problema mais grave que precisa de atenção especializada.

Fonte: Evaluation of male sexual dysfunction - UpToDate OnLine

Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576

sábado, 14 de maio de 2016

Elevação dos níveis de prolactina ou hiperprolactinemia

A prolactina é o hormônio responsável pela lactação, ou seja, produção de leite. É produzida pela hipófise, glândula localizada na parte debaixo do cérebro. Dá-se o nome de hiperprolactinemia ao aumento dos níveis de prolactina sangue. A hiperprolactinemia pode causar sintomas, já que a prolactina interfere na função dos ovários e dos testículos. É uma doença que pode acometer ambos os sexos, mas é mais diagnosticada em mulheres com menos de 50 anos.



Quais a causas de hiperprolactinemia?

O aumento dos níveis de prolactina pode dever-se a uma série de condições. Entre elas destacam-se:
– gravidez;
– estresse;
– estimulação dos mamilos ou doenças da parede torácica;
– uso de alguns tipos de medicamento;
– doença renal;
– alterações na molécula da prolactina;
tumores de hipófise/hipotálamo.

Quais são os sintomas de hiperprolactinemia?

Os sintomas da hiperprolactinemia dependem do sexo e da causa. O paciente com níveis elevados de prolactina pode apresentar:
– alterações menstruais;
– diminuição da fertilidade e dificuldade em ter filhos (homens e mulheres);
– produção de leite (mulheres);
– secura vaginal e fogachos;
– falta de desejo sexual e dificuldades na ereção;
– osteoporose (homens e mulheres).
Quando o excesso de prolactina é causado por tumores, pode acontecer dor de cabeça e problemas na visão.

Como é feito o diagnóstico de hiperprolactinemia?

O diagnóstico é feito através da história do paciente, da dosagem da prolactina no sangue e, em alguns casos, de exames de imagem da glândula hipófise (ressonância magnética).

Como é feito o tratamento da hiperprolactinemia?

O tratamento depende da causa. Por exemplo: caso se diagnostique tumor de hipófise, o tratamento é realizado primeiramente com remédios (cabergolina ou bromocriptina). Em alguns casos, quando esse tratamento não é satisfatório, podem ser necessárias cirurgia ou radioterapia.

Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576

quinta-feira, 10 de março de 2016

Puberdade precoce: quando o desenvolvimento sexual começa antes da hora

O que é puberdade precoce?

Puberdade é o conjunto de modificações que o corpo da criança passa para tornar-se adulto. Já na puberdade precoce, estas mudanças começam antes do tempo.
A puberdade normal usualmente começa entre os 9 e 12 anos nas meninas e entre os 10 e 13 anos nos meninos. A puberdade é considerada precoce se começar antes dos 8 anos nas meninas ou antes dos 9 anos nos meninos.



O que causa a puberdade precoce?

A puberdade normal começa quando ovários ou testículos iniciam a produção dos hormônios estradiol e testosterona, respectivamente. Na puberdade precoce a produção hormonal começa antes do tempo, devido a problemas nos testículos, nos ovários, na glândula hipófise ou na área do cérebro conhecida como hipotálamo. Contudo, pode ocorrer puberdade precoce mesmo na ausência de alterações identificáveis. Isso é comum principalmente nas meninas.

Quais são as mudanças que ocorrem no corpo da criança durante a puberdade precoce?

As mudanças são as mesmas que acontecem na puberdade normal, mas surgem antes do tempo.
Nos meninos:
- aumento dos testículos (primeiro sinal);
- aumento do tamanho do pênis;
- crescimento de pelos pubianos, axilares e de barba;
- mudança na voz;
- ejaculação;
- crescimento acelerado.
Nas meninas:
- crescimento das mamas (primeiro sinal);
- crescimento de pelos pubianos e axilares;
- menstruação;
- crescimento acelerado.

Como é feita a avaliação da puberdade precoce?

A avaliação começa com uma história detalhada, incluindo informações sobre a puberdade dos pais. A criança é medida e pesada e o desenvolvimento sexual é avaliado. Havendo necessidade, são pedidos exames de sangue e raio-x da mão para avaliação da cartilagem de crescimento. Conforme o resultado destes primeiros exames, podem ser pedidos testes hormonais confirmatórios e exames de imagem como ecografias dos órgãos genitais ou ressonância magnética da hipófise/hipotálamo.

Como é feito o tratamento da puberdade precoce?

O tratamento apropriado da puberdade precoce é importante, pois evita que a cartilagem de crescimento se feche antes do tempo. Isso preserva a estatura da criança, fazendo com que ela consiga crescer por mais tempo, evitando a baixa estatura.
Algumas crianças com progressão lenta da puberdade podem ser apenas monitoradas de perto. Outras com causas específicas identificadas, como tumores de testículo ou de ovário, podem necessitar de tratamento cirúrgico. Por fim, outras crianças precisam bloquear a puberdade com tratamento injetável.

Caso você desconfie que seu filho(a) está desenvolvendo entrando em puberdade antes do tempo, procure o pediatra e o endocrinologista e faça uma avaliação.

Referência:
1- Harrington J, Palmert MR. Definition, etiology, and evaluation of precocious puberty. UpToDate.

Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
Doutor e Mestre em Endocrinologia - UFRGS
CREMERS 30.576 - RQE 22.991

Texto revisado em 16 de junho de 2019.

segunda-feira, 7 de março de 2016

Medicamentos que elevam os níveis de prolactina

Sempre que um paciente traz exames de sangue mostrando níveis discretamente elevados de prolactina (até 200 ng/mL), um dos primeiros passos da avaliação é coletar detalhadamente o histórico de todas as substâncias, especialmente medicações psiquiátricas, que vinham sendo usadas. A prolactina é produzida pela glândula hipófise. Outra substância, a dopamina produzida pelo hipotálamo, desce pela pequena haste hipofisária e é capaz de inibir a produção de prolactina na hipófise (figura abaixo). Ou seja, medicamentos que interfiram na ação da dopamina são capazes de elevar os níveis de prolactina.
Abaixo, uma lista de medicamentos comumente associados ao aumento nos níveis de prolactina e seus mecanismos de ação.



Antipsicóticos de primeira geração: bloqueiam o receptor D2 da dopamina.

Clorpromazina
Flufenazina
Haloperidol
Loxapina
Perfenazina
Pimozida
Tiotixeno
Trifluoperazina

Antipsicóticos de segunda geração: bloqueiam o receptor D2 da dopamina.

Aripiprazol
Asenapina   
Clozapina
Iloperidona
Lurasidona
Olanzapina
Paliperidona
Quetiapina
Risperidona (medicamento que mais eleva a prolactina!)
Ziprasidona

Antidepressivos tricíclicos: possivelmente agem através de estimulação GABA e modulação indireta da liberação de prolactina pela serotonina.

Amitriptilina
Desipramina
Clomipramina
OBS: a nortriptilina não causa elevação da prolactina

Antidepressivos inibidores seletivos da recaptação de serotonina: mesmo mecanismo dos triciclicos. O aumento da prolactina é menos comum.

Citalopram
Fluoxetina
Fluvoxamina
Paroxetina
Sertralina

Medicações para vômito: bloqueiam o receptor D2 da dopamina.

Metoclopramida
Domperidona
Proclorperazina

Medicamentos para pressão alta:
Verapamil - mecanismo pouco conhecido.
Metildopa - inibe a síntese de dopamina.

Analgésicos opioides (tratamento de dor grave): efeito indireto da ativação do receptor mu opioide. A elevação da prolactina é transitória nesses casos.
Metadona, morfina e outros.

Nos casos de elevação dos níveis de prolactina concomitantes ao uso destes medicamentos, a avaliação conjunta do médico endocrinologista com o médico prescritor (clínico, psiquiatra, gastroenterologista ou cardiologista) é fundamental para decisão da melhor forma de abordagem diagnóstica e terapêutica, já que alguns pacientes poderão seguir fazendo uso da medicação e outros deverão ter a medicação suspensa ou substituída.

Fonte: UpToDate

Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Endocrinologia: uma especialidade de doenças prevalentes

O médico especialista em hormônios e no metabolismo

Todos sabem que o cardiologista cuida do coração, que o ginecologista cuida da saúde das mulheres e que o pediatra trata de crianças. Contudo, apesar de ser uma especialidade em franca ascensão, alguém, volta e meia, sempre pergunta: “O que faz o endocrinologista?”.
Endocrinologista é o médico especialista nos transtornos das glândulas endócrinas. Diferentemente das glândulas exócrinas, que secretam substâncias nas cavidades internas ou para o exterior do corpo, as glândulas endócrinas são responsáveis por secretar substâncias na corrente sanguínea. Essas substâncias são chamadas de hormônios.




Para que servem os hormônios?

Os hormônios são responsáveis por uma série de funções fundamentais para o nosso organismo. Entre estas funções estão a regulação do metabolismo, da reprodução, do crescimento e do desenvolvimento.


Quais são as principais doenças hormonais?

Distúrbios da secreção ou da ação dos hormônios podem levar a uma série de doenças. Entre elas, as mais comumente tratadas pelo endocrinologista são:


Por que tanta gente precisa do endocrinologista?

Os hábitos de vida modernos, caracterizados por alimentação inapropriada e sedentarismo, assim como o aumento da expectativa de vida, são os responsáveis pelos níveis epidêmicos de algumas destas doenças. Por exemplo, de cada 100 brasileiros, estima-se que em torno de 40 estejam acima do peso, 10 estejam obesos e 12 estejam diabéticos. Já o hipotireoidismo (diminuição da produção de hormônios pela glândula tireoide) pode acometer cerca de 10 em cada 100 pessoas.
Uma vez que o médico endocrinologista está sendo cada vez mais requisitado, é importante que todos conheçam a abrangência da Endocrinologia como especialidade. Isso fará com que a população saiba procurar por este profissional quando necessário, garantindo assim tratamento qualificado para os problemas em questão.

No vídeo, explico um pouco mais sobre a Endocrinologia.



Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista titulado pela SBEM
Doutor e Mestre em Endocrinologia pela UFRGS
CREMERS 30.576 - RQE 22.991

Conteúdo revisado em 26 de abril de 2020.

domingo, 13 de setembro de 2015

Saiba quando desconfiar de baixa estatura

O que é baixa estatura?

Uma criança ou adolescente é considerada com baixa estatura quando está dois desvios-padrões abaixo da média idade e sexo, ou seja, quando fica fora dos canais de crescimento nos gráficos. Mais importante do que um medida isolada da estatura, são as medidas consecutivas, que dão informação sobre a velocidade de crescimento. O acompanhamento regular com o pediatra é fundamental para identificar quem necessita de avaliação complementar. Outra maneira de desconfiar de baixa estatura é observando se a criança tem a mesma altura que as outras da mesma idade, embora a avaliação através dos gráficos de crescimento seja muito mais apropriada.


Quais as causas de baixa estatura?

Existem diversas causas de baixa estatura. Estas vão desde doenças genéticas, doenças crônicas (anemia, asma, doenças renais e cardíacas, entre outras), problemas emocionais, doenças esqueléticas e doenças endocrinológicas (raquitismo, diabetes mellitus mal controlado, deficiência do hormônio do crescimento, hipotireoidismo, doenças da adrenal e distúrbios da puberdade).

Como é feita a avaliação da baixa estatura?

A avaliação é feita através da história detalhada desde o nascimento. São feitos questionamentos sobre medicamentos em uso, presença de doenças e desenvolvimento sexual. É importante, se possível, que ambos os pais compareçam a consulta, pois deverão ser medidos para calcular a altura alvo da criança. Dependendo da avaliação clínica inicial, podem ser pedidos exames gerais, além de raio-x da mão para avaliação da cartilagem de crescimento. Conforme os resultados dessa primeira leva de exames, podem ser necessários testes específicos para confirmação dos diferentes diagnósticos.

Como é feito o tratamento da baixa estatura?

O tratamento depende da causa, sendo que para algumas condições não existe tratamento específico. Por exemplo, na criança com hipotireoidismo, se repõe o hormônio tireoidiano; já na criança com diabetes, trata-se a doença apropriadamente.
Ao contrário do que se pensa, o hormônio do crescimento não está indicado para todas as crianças com problemas de crescimento e sim para aquelas com deficiência comprovada ou em grupos selecionados, como meninas com síndrome de Turner ou crianças com insuficiência renal crônica. O tratamento é mantido até o final do crescimento e em alguns casos indefinidamente.
Nas crianças que precisam de tratamento específico, quanto antes este for iniciado, melhores serão os resultados. Logo, quando se identifica ou se desconfia de problemas no crescimento, a avaliação deve ser imediata. Retardar a consulta, esperando que seu filho(a) vá crescer depois, pode trazer prejuízos irreparáveis a estatura final.

Se você ou o pediatra percebeu ou desconfia que seu filho(a) possa estar crescendo menos que o esperado, procure um endocrinologista.

Referência:
1- Rogol AD. Diagnostic approach to children and adolescents with short stature. UpToDate.

Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
Doutor e Mestre em Endocrinologia - UFRGS
CREMERS 30.576 - RQE 22.991
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Texto atualizado em 7 de abril de 2019.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Hormônio do crescimento e envelhecimento

No texto anterior, aprendemos que a medida que o tempo passa, nossas células envelhecem e seus tecidos perdem função. Isso acaba por levar à diminuição nos níveis de alguns hormônios, entre eles o hormônio do crescimento ou GH (do inglês growth hormone). Neste "capítulo", entenderemos um pouco mais sobre como o GH age e o que vai acontecendo à medida que os anos passam...
A glândula hipófise, que está localizada na base do cérebro logo atrás dos nossos olhos, começa a fabricar o GH desde muito cedo, quando ainda estamos dentro do ventre de nossas mães. O gene do GH está localizado no cromossomo 17 e é regulado por interações complexas. A secreção do GH pela hipófise pode ser estimulada ou inibida por diferentes fatores. O GHRH (do inglês growth hormone releasing hormone), por exemplo, é um hormônio produzido na região do cérebro chamada de hipotálamo e estimula a secreção do GH; já a somatostatina, inibe a secreção do GH. Fatores não hormonais também são importantes. A atividade física aumenta a secreção de GH e a obesidade diminui. A liberação do GH pela hipófise acontece em pulsos, isto é, durante a noite na fase de sono profundo, são liberadas grandes quantidades em intervalos pequenos. Esta informação é importante, pois uma dosagem baixa de GH não significa necessariamente que haja deficiência, mas que a coleta do exame foi feita no momento ou de forma incorretos.



Após cair na corrente sanguínea o GH viaja até o fígado onde estimula a produção do IGF-1. É através do IGF-1 que o GH promove o crescimento através da cartilagens localizadas nos ossos longos. Outras funções importantes do GH são aumento da síntese proteica, o que ajuda a formar músculos, e aumento da lipólise, isto é, aumento da queima da gordura estocada.
A medida que ficamos mais velhos, duas coisas acontecem:
1- O hipotálamo reduz progressivamente a secreção do GHRH. Além disso, a hipófise torna-se cada fez menos sensível ao hormônio hipotalâmico. Como consequência, a secreção de GH também cai.
2- Existe a tendência à inatividade com consequente ganho de peso. Como vimos anteriormente, isso também contribui para queda nos níveis do GH. Aqui temos um ponto frequentemente interpretado de maneira incorreta pelos defensores das terapias de "modulação hormonal" para combater o envelhecimento. A queda do GH é consequência da envelhecimento e de um modo de vida sedentário e não a causa! Outro fator que pode piorar a secreção do GH com a idade é a baixa qualidade do sono.
Apesar de todos os indícios apontarem que a queda dos níveis do GH são consequência e não causa do processo de envelhecimento, já foram realizados diversos estudos visando normalizar ou "modular" os níveis deste hormônio na tentativa de manter o bem estar e a juventude. No entanto, os resultados foram ora contraditórios, ora decepcionantes...
Um dos estudos mais bem desenhados sobre o assunto foi publicado na revista médica JAMAem 2002. Neste ensaio clínico randomizado, foram avaliados 131 pacientes (homens e mulheres) com mais de 65 anos. Conforme esperado, o uso do GH ajudou a aumentar a massa muscular, reduzir a massa gordurosa e a melhorar a performance atlética de maneira muito sutil. Contudo, efeitos adversos como inchaço, dores nas juntas, síndrome do túnel do carpo e diabetes foram muito frequentes, o que levou os pesquisadores do estudo a concluir que este tipo de tratamento não deve ser usado, pois os prejuízos à saúde são maiores que os benefícios.
Cinco anos após, em 2007, foi publicada na revista Annals of Internal Medicine um extensa revisão de toda a literatura médica sobre o uso do GH como tratamento "anti-aging". Esta revisão compilou os dados de 18 estudos para chegar às seguintes conclusões:
- os estudos foram curtos demais. Não duraram mais do que 6 meses. Isso limita muito a capacidade de avaliar benefícios e principalmente os possíveis riscos à saúde.
- GH não emagrece. O peso dos participantes se manteve estável. Contudo, em média, houve ganho de 2 quilos de massa magra e perda de 2 quilos de gordura.
- essa mudança na composição corporal não foi capaz de reduzir os níveis de colesterol nem de melhorar a massa óssea após os devidos ajustes às particularidades de cada paciente.
- os pacientes que fizeram uso de GH apresentaram efeitos adversos como inchaço, dores nas juntas, síndrome do túnel do carpo, glicose elevada, diabetes e ginecomastia (crescimento de mamas em homens).
Logo, o uso da terapia de "modulação hormonal" com GH oferece um ganho muito discreto às custas de efeitos adversos muito frequentes e custo elevado. Além disso, estudos com animais têm mostrado que níveis diminuídos de GH estão associados à maior longevidade, uma observação intrigante que põe em cheque a hipótese de que a reposição de hormônio do crescimento seria de fato um tratamento "anti-aging".
Infelizmente, apesar dos fatos científicos e das recomendações em contrário, algumas pessoas ainda buscam e outras ainda oferecem esta falsa "fonte da juventude"...
Fique de olho! E na sequência, conversaremos sobre outros hormônios e seus papéis no envelhecimento.

Referências:
1- Blackman MR et al. Growth hormone and sex steroid administration in healthy aged women and men: a randomized controlled trial. JAMA. 2002;288(18):2282.
2- Liu H et al. Systematic review: the safety and efficacy of growth hormone in the healthy elderly. Ann Intern Med. 2007;146(2):104.

Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576

sexta-feira, 31 de julho de 2015

O papel dos hormônios no envelhecimento

Estamos ficando mais maduros, isto é um fato! Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010 havia 18 milhões de pessoas com 60 anos ou mais e em 2050 serão 64 milhões. O envelhecimento é um processo biológico complexo e progressivo que diminui a função das nossas células e tecidos. Consequentemente, nosso corpo torna-se menos apto à reprodução e à sobrevivência. Desde o século 19, tem-se tentado achar uma "fonte de eterna juventude" através do uso de hormônios. Apesar do processo de envelhecimento ter sido apenas parcialmente decifrado e ser decorrente de uma intrincada acumulação de defeitos bioquímicos nos ácidos nucleicos, proteínas e membranas celulares, algumas pessoas ainda insistem em vender a ideia de que uma "modulação hormonal" possa ser capaz de impedir que fiquemos velhos.  As melhores evidências disponíveis até o momento culpam os seguintes processos em fragilizar nosso organismo: estresse oxidativo causado por radicais livres; glicosilação não enzimática de proteínas com perda de suas propriedades; alterações epigenéticas como metilação do DNA e acetilação de histonas, que dificultam a renovação celular e, consequentemente, o funcionamento dos diferentes tecidos. Complicado, não? No entanto, quais substâncias ou processos bioquímicos desencadeiam ou revertem estes processo ainda são desconhecidos. Além disso, o processo é individualizado, já que pessoas com a mesma idade cronológica podem parecer mais ou menos idosas quando comparadas entre si. Ou seja, a diminuição nos níveis de alguns hormônios é mais provavelmente consequência do que causa do processo de envelhecimento.

Alterações hormonais parecem ser consequência e não causa do processo de envelhecimento

Quando avaliamos um indivíduo do ponto de vista hormonal, devemos estar cientes que alterações podem ser tanto devidas à idade quanto a doenças crônicas, muito comuns a medida que o tempo avança, mesmo que assintomáticas. Parece simples, mas na maioria das vezes esta distinção é muito difícil de ser feita, principalmente devido a falta de estudos que definam o que é "normal" para uma determinada faixa etária. De uma maneira geral, as seguintes alterações hormonais que aparecem com a idade são relevantes:
1- o único sistema hormonal em que há uma diminuição de função bem definida, abrupta e universal com o envelhecimento é no eixo hipotálamo-hipófise-ovários nas mulheres. É a famosa menopausa.
2- a produção de hormônio do crescimento, testosterona e do hormônio adrenal DHEA diminui com a idade. Existem valores de referência definidos para as diferentes faixas etárias. Contudo, se estes valores são fisiologicamente ótimos, ainda não sabemos.
3- alguns outros hormônios como o TSH, que estimula a tireoide, podem sofrer alteração com a idade. Mas estas alterações são menos previsíveis e os valores de referência são pouco definidos. Logo, qualquer alteração, deve ser cuidadosamente avaliada.
4- alguns hormônios acabam subindo ou diminuindo com a idade devido a uma diminuição ou aumento da sensibilidade dos tecidos alvos. Ou seja, trata-se apenas de um mecanismo de adaptação.
Até aqui, podemos perceber que alterações hormonais podem acontecer com o envelhecimento, mas não são necessariamente causas deste processo. Mas a "modulação hormonal" pregada por alguns adeptos da "medicina anti-aging" pode ajudar? Pode fazer mal? Veremos nos próximos capítulos...
Fonte: UpToDate OnLine

Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576