sexta-feira, 31 de julho de 2015

O papel dos hormônios no envelhecimento

Estamos ficando mais maduros, isto é um fato! Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010 havia 18 milhões de pessoas com 60 anos ou mais e em 2050 serão 64 milhões. O envelhecimento é um processo biológico complexo e progressivo que diminui a função das nossas células e tecidos. Consequentemente, nosso corpo torna-se menos apto à reprodução e à sobrevivência. Desde o século 19, tem-se tentado achar uma "fonte de eterna juventude" através do uso de hormônios. Apesar do processo de envelhecimento ter sido apenas parcialmente decifrado e ser decorrente de uma intrincada acumulação de defeitos bioquímicos nos ácidos nucleicos, proteínas e membranas celulares, algumas pessoas ainda insistem em vender a ideia de que uma "modulação hormonal" possa ser capaz de impedir que fiquemos velhos.  As melhores evidências disponíveis até o momento culpam os seguintes processos em fragilizar nosso organismo: estresse oxidativo causado por radicais livres; glicosilação não enzimática de proteínas com perda de suas propriedades; alterações epigenéticas como metilação do DNA e acetilação de histonas, que dificultam a renovação celular e, consequentemente, o funcionamento dos diferentes tecidos. Complicado, não? No entanto, quais substâncias ou processos bioquímicos desencadeiam ou revertem estes processo ainda são desconhecidos. Além disso, o processo é individualizado, já que pessoas com a mesma idade cronológica podem parecer mais ou menos idosas quando comparadas entre si. Ou seja, a diminuição nos níveis de alguns hormônios é mais provavelmente consequência do que causa do processo de envelhecimento.

Alterações hormonais parecem ser consequência e não causa do processo de envelhecimento

Quando avaliamos um indivíduo do ponto de vista hormonal, devemos estar cientes que alterações podem ser tanto devidas à idade quanto a doenças crônicas, muito comuns a medida que o tempo avança, mesmo que assintomáticas. Parece simples, mas na maioria das vezes esta distinção é muito difícil de ser feita, principalmente devido a falta de estudos que definam o que é "normal" para uma determinada faixa etária. De uma maneira geral, as seguintes alterações hormonais que aparecem com a idade são relevantes:
1- o único sistema hormonal em que há uma diminuição de função bem definida, abrupta e universal com o envelhecimento é no eixo hipotálamo-hipófise-ovários nas mulheres. É a famosa menopausa.
2- a produção de hormônio do crescimento, testosterona e do hormônio adrenal DHEA diminui com a idade. Existem valores de referência definidos para as diferentes faixas etárias. Contudo, se estes valores são fisiologicamente ótimos, ainda não sabemos.
3- alguns outros hormônios como o TSH, que estimula a tireoide, podem sofrer alteração com a idade. Mas estas alterações são menos previsíveis e os valores de referência são pouco definidos. Logo, qualquer alteração, deve ser cuidadosamente avaliada.
4- alguns hormônios acabam subindo ou diminuindo com a idade devido a uma diminuição ou aumento da sensibilidade dos tecidos alvos. Ou seja, trata-se apenas de um mecanismo de adaptação.
Até aqui, podemos perceber que alterações hormonais podem acontecer com o envelhecimento, mas não são necessariamente causas deste processo. Mas a "modulação hormonal" pregada por alguns adeptos da "medicina anti-aging" pode ajudar? Pode fazer mal? Veremos nos próximos capítulos...
Fonte: UpToDate OnLine

Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576

domingo, 26 de julho de 2015

Maconha pode ser útil no tratamento da dor em pacientes diabéticos com neuropatia

Uma das complicações mais prevalentes e mais problemáticas em pacientes diabéticos é o acometimento dos nervos. A neuropatia diabética costuma acometer de 30 a 50 por cento dos pacientes diabéticos em algum momento. O quadro clínico é variável e depende dos nervos acometidos. A forma mais frequente é a polineuropatia sensório-motora distal, que costuma causar sintomas dolorosos no pés. A dor deste tipo de neuropatia, em alguns casos, é de difícil tratamento apesar das diversas opções terapêuticas disponíveis. Considerando isso, um grupo de médicos da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, resolveu estudar o efeito terapêutico da maconha no combate à dor neuropática.



No estudo publicado na revista médica  “Journal of Pain” no final do mês de julho de 2015, dezesseis pacientes diabéticos dos tipos 1 e 2 foram avaliados através de um ensaio clínico randomizado se o uso da maconha vaporizada poderia ajudar no controle dos sintomas dolorosos. Para que o estudo fosse feito, os pesquisadores usaram maconha de procedência certificada, ou seja, com quantidades conhecidas do princípio ativo delta-9-tetrahidrocanabinol (THC). Além disso, a maconha não foi fumada, mas vaporizada através de um aparelho chamado Volcano. Este vaporizador esquenta a maconha até 200 graus Celsius, fazendo com que sejam liberados os princípios ativos na forma de vapor que é nebulizado pelos participantes do estudo.
Durante as 4 horas que se seguiram à nebulização, foram avaliados os sintomas dolorosos e os possíveis efeitos adversos. O estudo mostrou que quanto maior a dose inalada, maior o potencial analgésico do vapor de maconha. Contudo, efeitos adversos com lentificação psicomotora e euforia também foram mais comuns com doses maiores.
O estudo é importante por evidenciar o potencial de uma nova classe terapêutica para uma condição de difícil tratamento. Contudo, os resultados ainda são preliminares, já que o grupo estudado foi muito pequeno e por período tempo insignificante, ainda mais sabendo que o diabetes é uma doença crônica que requer tratamentos prolongados, ou seja, realmente seguros e eficazes. Logo, não vale fumar maconha para tratar dor nos pés. Até que mais estudos confirmem estes achados, tal abordagem pode trazer mais riscos do que benefícios.
Fonte: Medscape

Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576

domingo, 5 de julho de 2015

Bebidas industrializadas adoçadas a base de leite aumentam o risco de diabetes tipo 2

Mas o que são “bebidas industrializadas adoçadas a base de leite”, para começo de conversa? Fazem parte deste grupo principalmente os achocolatados prontos para beber como o famoso Toddynho®. Um estudo publicado na revista médica Diabetologia no final do mês de abril de 2015 avaliou a ingestão de bebidas em mais de 25 mil pessoas através de questionários detalhados. Os participantes do estudo eram homens e mulheres ingleses que foram acompanhados por cerca de 10 anos. Os autores perceberam que além dos refrigerantes, os milkshakes e os “toddynhos” também aumentaram o risco de diabetes mellitus tipo 2. Em uma dieta de 2000 calorias, cada 100 calorias vindas desse tipo de bebida aumenta o risco de diabetes em 18 por cento! E agora, o que faço? O mesmo estudo mostra que substituir uma bebida adoçada por água, chá ou café (sem açúcar) reduz o risco de diabetes em até 25 por cento.
Fica o alerta principalmente para as mamães que muitas vezes compram os práticos achocolatados em caixinhas acreditando serem produtos saudáveis. Se for para consumir, muita moderação!
Fonte: Medscape


Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576