sábado, 18 de novembro de 2017

Avaliação hormonal dos incidentalomas de adrenal

A avaliação das lesões das glândulas adrenais descobertas ao acaso, ou incidentalomas, procura responder duas perguntas:
2- A lesão secreta algum hormônio?
Neste texto, vamos entender como o médico endocrinologista faz para responder a segunda questão.

Glândula adrenal e suas camadas

A grande maioria dos incidentalomas não secreta hormônios. Uma revisão de diversos estudos compilou dados de cerca de 1800 pacientes. Destes, quase 90 por cento não apresentava alteração nos hormônios da adrenal. O excesso de cortisol foi flagrado em 6,4 por cento dos casos. Já a produção excessiva de metabólitos da adrenalina/noradrenalina e de aldosterona, substâncias que podem causar aumento da pressão arterial, foi de 3,1 e 0,6 por cento, respectivamente.
Apesar de pouco frequente, a produção hormonal excessiva sempre deve ser investigada em pacientes com suspeita clínica. Nos pacientes assintomáticos, a secreção excessiva de cortisol ou de metabólitos da adrenalina/noradrenalina também deve ser sempre avaliada, já que em diversas ocasiões os sinais e sintomas não são evidentes, isto é, o quadro é subclínico.
Vejamos como é feita a avaliação hormonal dos incidentalomas de adrenal…

Feocromocitoma

Feocromocitomas são tumores derivados da camada mais interna das glândulas adrenais, a medula. A produção de metabólitos de adrenalina e noradrenalina por essas lesões pode causar aumento da pressão arterial e episódios de palpitação, suor excessivo e difuso, dor de cabeça, palidez e tremor. Quando o paciente apresenta alta probabilidade de possuir um feocromocitoma, coleta-se sangue para dosagem das metanefrinas fracionadas. Nos outros casos, a dosagem das metanefrinas e catecolaminas é feita na urina de 24 horas.

Síndrome de Cushing

A produção excessiva de cortisol por uma lesão adrenal pode levar a um quadro de síndrome de Cushing. Estes pacientes podem apresentar obesidade no tronco com perna e braços finos, rosto redondo e avermelhado, pele fina e frágil com estrias roxas e largas, acúmulo de gordura formando uma corcova sobre as clavículas e atrás do pescoço, além de fraqueza muscular. Nos incidentalomas de adrenal, esta sintomatologia exuberante é pouco frequente. No entanto, pressão alta, alteração nos níveis de glicose e colesterol, além de um risco aumentado de fraturas de coluna podem fazer parte do quadro. O exame visa flagrar se existe secreção de cortisol clinicamente significativa. Nos pacientes que apresentam sintomas, a coleta do cortisol em exame de urina de 24 horas é realizada. Nos pacientes assintomáticas, o exame de preferência é o teste de supressão com 1 mg de dexametasona.

Aldosteronismo primário

A aldosterona é um hormônio secretado pelas adrenais que faz nossos rins reterem sódio e excretarem potássio. Quando em excesso, a aldosterona causa hipertensão arterial. Menos de 1% dos incidentalomas de adrenal são produtores de aldosterona. Logo, a avaliação hormonal está indicada apenas para pacientes hipertensos ou com níveis de potássio baixo.

Carcinoma (câncer) adrenocortical

Felizmente os carcinomas adrenocorticais são pouco frequentes. Costumam ser grandes e podem secretar qualquer tipo de hormônio esteroide (cortisol, aldosterona, estrogênios ou androgênios). O quadro é muito variável, e as dosagens hormonais, além do SDHEA, são indicadas conforme a suspeita clínica.

De uma maneira geral, os tumores funcionantes costumam ser retirados cirurgicamente, salvo em algumas situações, onde são acompanhados/tratados clinicamente, conforme critério do médico endocrinologista.

Fonte: The adrenal incidentaloma - UpToDate On Line

Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
Doutor em Endocrinologia
CREMERS 30.576 - RQE 22.991

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