terça-feira, 31 de outubro de 2017

Hipertireoidismo em crianças e adolescentes

Disfunções na tireoide não são exclusividade dos adultos. A glândula dos pequenos também pode ser afetada pelos mesmos problemas. Alguns sinais e sintomas são os mesmos em todas as faixas etárias. Outros, especialmente os relacionados ao crescimento e desenvolvimento, são peculiares em crianças e adolescentes. Vejamos o que pode acontecer em um quadro de hipertireoidismo...



Chamamos de hipertireoidismo a produção de hormônios em excesso pela tireoide. Não confunda com hipotireoidismo, que é o mal o funcionamento da glândula. A estimativa é que uma em cada 100.000 crianças menores de 15 anos desenvolva hipertireoidismo a cada ano. Meninas, principalmente durante a adolescência, tendem a ser mais acometidas. O efeito dos hormônios femininos durante a puberdade é a explicação, já que doenças autoimunes da tireoide são mais comuns em mulheres. Aliás, a doença de Graves, causada por anticorpos que estimulam a produção dos hormônios tireoidianos, é a causa mais comum de hipertireoidismo em crianças e adolescentes, contabilizando 96 por cento dos casos. Pacientes com síndrome de Down apresentam maior risco para doença de Graves.
Os sintomas clássicos de hipertireoidismo são:
- aumento do tamanho da glândula tireoide (bócio).
- tremor fino, perceptível especialmente nas mãos quando se estende os dedos.
- olhar fixo, brilhante e com as pálpebras retraídas.
- coração acelerado e palpitações.
- perda de peso involuntária mesmo com a ingestão de alimentos aumentada.
- pele fina, quente e com aumento do suor.
- diminuição da força muscular, perceptível principalmente na musculatura proximal, que torna mais difícil subir escadas ou levantar de assentos próximos ao chão.
- aumento da velocidade do trânsito intestinal, que resulta em mais idas ao banheiro para fazer cocô e, em alguns casos, diarreia.
- orbitopatia, que é a inflamação dos tecidos que envolvem o globo ocular, em alguns casos de doença de Graves.
Além disso, o excesso de hormônios tireoidianos acelera a maturação das cartilagens de crescimento, fazendo a criança crescer mais rápido do que o esperado. Este sinal pode passar despercebido, principalmente se a doença é leve e tem curta duração.
O desenvolvimento puberal não costuma ser afetado pelo hipertireoidismo. No entanto, meninas que já tiveram a primeira menstruação (menarca) podem deixar de ovular. Isso leva a atrasos ou mesmo a interrupção completa do fluxo menstrual.
Por fim, crianças com hipertireoidismo, especialmente as menores, tendem a apresentar mais oscilação do humor e distúrbios do comportamento que os adultos. A atenção diminuída, a hiperatividade e problemas no sono podem prejudicar o aproveitamento escolar e são frequentemente confundidos com TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade). Crianças menores de 4 anos também podem apresentar atraso no desenvolvimento neuropsicomotor.
Na suspeita de hipertireoidismo, crianças ou adolescentes deverão ser avaliados por médico endocrinologista. O diagnóstico pode ser feito através de exames de sangue (TSH, T4 livre, T3 e anticorpos). Em alguns casos, também são necessários exames complementares (ecografia ou cintilografia da tireoide).

Fonte: Clinical manifestations and diagnosis of hyperthyroidism in children and adolescents - UpToDate OnLine

Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
Doutor em Endocrinologia
CREMERS 30.576 - RQE 22.991

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Hipertireoidismo subclínico

Em alguns casos, nossa tireoide pode liberar hormônios em excesso. No HIPERtireoidismo subclínico, os níveis de TSH estão reduzidos, mas o T4 livre e o T3 ainda estão dentro dos valores normais. Trata-se de uma forma mais leve ou inicial de hipertireoidismo, que na maioria das vezes NÃO causa os sintomas clássicos como coração acelerado, tremor, falta de ar ao fazer exercícios e perda de peso.



O estudo norte-americano NHANES III estimou que aproximadamente uma em cada cem pessoas possui o diagnóstico de hipertireoidismo subclínico. O problema é mais frequente em quem vive em áreas deficientes de iodo (não é o caso da maior parte Brasil), em mulheres, fumantes e idosos.
As causas do hipertireoidismo subclínico são as mesmas de qualquer quadro de hipertireoidismo. Contudo, o uso de dose excessivas de hormônio tireoidiano (proposital ou não intencional) e os nódulos tireoidianos tóxicos (produtores de hormônio) são mais frequentes que a doença de Graves (bócio difuso tóxico de origem autoimune).
O diagnóstico é feito através de exames de sangue (TSH, T4 livre e T3) seguidos por avaliação complementar para identificar a causa do funcionamento excessivo da tireoide. Dependo do quadro clínico, o médico endocrinologista poderá solicitar também a dosagem de anticorpos, ecografia e cintilografia. Esta avaliação é importante para definição da melhor abordagem terapêutica.
As principais complicações associadas ao hipertireoidismo subclínico são o enfraquecimento dos ossos e as arritmias cardíacas, especialmente em idosos. Além disso, até 8 por cento dos pacientes acabam progredindo para hipertireoidismo franco, com elevação do T4 livre e T3.
A decisão quanto à necessidade de tratamento depende da idade do paciente, da presença de sintomas, da presença de fatores de risco para doenças cardiovasculares e osteoporose, além dos níveis de TSH. De uma maneira geral, pacientes com maior risco de complicações tendem a receber tratamento enquanto os casos mais simples tendem a ser observados. O médico endocrinologista procura individualizar o manejo da melhor maneira possível.

Fonte: Subclinical hyperthyroidism in nonpregnant adults - UpToDate Online

Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
Doutor em Endocrinologia
CREMERS 30.576 - RQE 22.991

domingo, 8 de outubro de 2017

Ecografia (ultrassonografia) de tireoide: entenda o exame

Ecografia - o que é e como funciona

A ecografia ou ultrassonografia é um exame que usa a reflexão das ondas de ultrassom para conseguir ver através de um monitor os diferentes tecidos do organismo. Como a tireoide está localizada na região anterior do pescoço, logo abaixo do “pomo-de-adão”, e está coberta praticamente apenas por pele, pode ser facilmente avaliada através da ecografia. Sempre que há necessidade de avaliação da tireoide através de imagem, a ecografia é o exame de escolha.

Ecografia de tireoide para guiar punção de nódulo.

Indicações da ecografia de tireoide

O médico endocrinologista lança mão deste exame nas seguintes situações:
– para avaliar a anatomia da tireoide quando suspeita de alguma anormalidade no exame clínico (palpação do pescoço);
– para avaliar alterações na tireoide descobertas ao acaso em outros exames como ecodoppler de carótidas, ressonância magnética ou tomografia computadorizada;
– para guiar punção aspirativa com agulha fina (PAAF) em nódulos ou linfonodos (ínguas);
– para ajudar a planejar a cirurgia no caso de câncer de tireoide;
– para monitorar possíveis recidivas no paciente em tratamento para câncer de tireoide;
– quando há suspeita de bócio no feto, ou seja, no bebê mesmo antes de ter nascido;
– para rastrear câncer em grupos selecionados de pacientes com alto risco para esta doença, como pessoas que fizeram radioterapia na região do pescoço.


Alguns achados da ecografia precisam ser confirmados por exames complementares

Dependendo da história e do quadro clínico do paciente, os diferentes achados da ecografia podem ajudar a confirmar ou afastar doenças. Por exemplo, um nódulo de 4 centímetros de diâmetro, hipoecoico, sem halo e com microcalcificações, é altamente suspeito de malignidade, logo, deve ser puncionado. Contudo, apesar da ecografia sugerir diagnósticos, estes devem ser confirmados, por punção ou outros exames apropriados.


A ecografia deve ser feita apenas com indicação precisa

O rastreamento universal, ou seja, o uso indiscriminado da ecografia de tireoide para procurar doença em pessoas que não se enquadram nas indicações acima, não está indicado. O rastreamento não é custo-efetivo e pode trazer mais prejuízos do que benefícios aos pacientes, como exames e até mesmo cirurgias desnecessárias.

Fonte: UpToDate OnLine



No vídeo, entenda a diferença entre nódulos hipoecoicos, hiperecoicos e isoecoicos.



Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista titulado pela SBEM
Doutor e Mestre em Endocrinologia pela UFRGS
CREMERS 30.576 - RQE 22.991
Santa Maria - RS

Texto revisado em 7 de julho de 2020.