quarta-feira, 12 de agosto de 2015

DHEA e envelhecimento

A dehidroepiandrosterona (DHEA) e sua forma sulfatada, o sulfato de dehidroepiandrosterona (SDHEA), são produzidos pelas glândulas adrenais, que estão localizadas acima de cada um dos rins. O DHEA é considerado um androgênio fraco, isto é, um hormônio que precisa ser convertido em formas mais ativas para exercer suas funções biológicas. A produção do DHEA atinge seu pico por volta do 25 anos. À medida que envelhecemos, sua produção diminui. Por volta dos 80 anos, a concentração de DHEA é cerca de 80 por cento menor.
Pequenas quantidades do DHEA e do SDHEA são convertidas em androgênios mais ativos (androstenediona, androstenediol, testosterona e 5-dihidrotestosterona) ou mesmo em estrogênios (estradiol e estrona) nas glândulas adrenais, nos folículos pilosos (locais onde crescem os pelos), próstata, órgãos genitais e no tecido adiposo (gordura). Estes hormônios mais ativos interagem com os receptores celulares e não o DHEA propriamente dito. Nas mulheres, DHEA e SDHEA são fontes importantes de efeito androgênico, o que não acontece nos homens.



O interesse em suplementar DHEA é crescente. Vários efeitos benéficos têm sido defendidos, como ação vasodilatadora, anti-depressiva, anti-inflamatória, anti-aterosclerótica e mesmo anti-envelhecimento. Mas será o DHEA a tão procurada "fonte da juventude"?
Em pacientes com insuficiência adrenal, doença caracterizada pela redução na produção de corticoides, o uso do DHEA pode ser útil. Diferentes estudos mostram que o uso de doses entre 50 e 200 mg por dia podem melhorar o bem estar e sintomas psicológicos. Alguns destes estudos também evidenciaram, de forma menos consistente, melhora na função sexual, massa óssea e massa magra. Vale lembrar que estes efeitos benéficos foram observados em pessoas com doença adrenal grave e não na redução hormonal relacionada à idade.
Quando utilizado como estratégia "anti-aging", o DHEA não mostra resultados tão animadores. Ensaios clínicos randomizados têm resultados conflitantes com relação ao bem estar, sendo que a maioria dos estudos não consegue demonstrar esse efeito. Com relação ao aumento de massa magra, os estudos são categóricos em afirmar que o uso do DHEA para esta finalidade não funciona. Apesar de estudos em animais evidenciarem redução de gordura abdominal, a maioria dos estudos com seres humanos não evidenciou este efeito. Outras propriedades não observadas foram  prevenção da perda de memória e prevenção de doenças cardiovasculares.  Por fim, o uso de DHEA pode aumentar a densidade mineral óssea, principalmente no fêmur. Contudo, se esta melhora no tecido ósseo se traduz em prevenção de fraturas, ainda não se sabe.
O uso do DHEA não é isento de efeitos adversos. Aumento da oleosidade da pele, crescimento excessivo de pelos, redução do colesterol HDL ("colesterol bom"), palpitações e surtos maníacos podem acontecer, já que estamos falando de um hormônio androgênico. Outro problema é com relação a sua pureza. Como o DHEA é importado e nos Estados Unidos, é considerado um suplemento alimentar, muitas vezes as apresentações comerciais têm origem duvidosa e concentrações diferentes das informadas no rótulo.
Em resumo, apesar de existir a opção de reposição via oral do DHEA, este tipo de tratamento de "modulação hormonal" traz poucos ou nenhum benefício a não ser que o usuário tenha insuficiência adrenal confirmada. Além disso, os estudos que avaliaram este tipo reposição envolveram poucos participantes e não duraram mais do que 2 anos. Isto compromete muito a capacidade de generalização dos resultados principalmente no que se refere à segurança do tratamento. Logo, como podemos perceber, ainda não foi desta vez que a reposição de um hormônio foi capaz de combater o processo de envelhecimento...

Dr. Mateus Dornelles Severo
Médico Endocrinologista
Mestre em Endocrinologia
CREMERS 30.576

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