terça-feira, 6 de março de 2018

Vale a pena investir na dieta do DNA?

Quem lembra da dieta do tipo sanguíneo? Não faz muito tempo, esse regime alimentar propunha selecionar os alimentos de acordo com o sangue. Quem era A deveria comer isso, quem era B deveria comer aquilo, quem era O deveria comer aquele outro. Algo completamente sem respaldo científico, que beirava o charlatanismo puro, felizmente foi abandonado - pelo menos pela maior parte das pessoas...



Mas a ideia de tentar encontrar a melhor alimentação baseada nas características individuais de cada pessoa permanece. Dentro das próprias pesquisas científicas que avaliavam diferentes tipos de dieta, sempre se observou que algumas pessoas perdiam mais peso que outras. Entre as explicações para este achado, está a genética.
De fato, alguns estudos conseguiram encontrar alguns genótipos, isto é, padrões específicos dentro do DNA que poderiam predispor uma pessoa a perder mais peso com uma dieta do que com outra. No entanto, estas análises apresentavam algumas limitações: ou eram pequenas demais, ou estavam sujeitas a viés (como os cientistas chamam a chance de erro).
Para avaliar se as características genéticas realmente teriam impacto na escolha do melhor tipo de dieta para perda de peso, foi proposto o estudo DIETFITS, publicado na revista médica JAMA no início de 2018.
O DIETFITS recrutou 609 homens e mulheres, com idade entre 18 e 50 anos, com sobrepeso ou obesidade e sem doenças associadas. Após um sorteio, cada participante poderia ser encaminhado para acompanhamento com uma dieta pobre em carboidratos ou pobre em gorduras. O objetivo principal do estudo foi avaliar se as pessoas com perfil genético "pouca gordura" emagreceriam mais comendo menos alimentos gordurosos, da mesma forma que pessoas com perfil genético "pouco carboidrato" emagreceriam mais ingerindo menos desse tipo de alimento. Algo que apesar de plausível e esperado, ainda não havia sido testado dentro de uma pesquisa clínica.
Após 12 meses, todo mundo perdeu cerca de 6 quilos, independentemente do tipo de dieta. Ao analisar a perda de peso de cada participante, para verificar se o perfil genético poderia fazer uma dieta funcionar melhor do que a outra, para surpresa dos pesquisadores, não se encontrou nenhuma diferença. Além disso, não houve diferença significativa na glicose, percentual de gordura, circunferência abdominal, pressão arterial, entre outros fatores. Como era de esperar, quem comeu menos carboidrato apresentou redução nos triglicerídeos e aumento do colesterol HDL (bom). Já quem comeu menos gordura conseguiu reduzir com colesterol LDL (ruim). Algo que não teve grande impacto clínico.
Apesar da grande evolução da genética, o DIETFITS nos mostrou que até o presente momento não faz diferença tentar selecionar um padrão alimentar com base em exames que avaliem o DNA ou o genoma. Esse tipo de exame já é disponibilizado comercialmente por alguns laboratórios a um custo relativamente alto. Mas ao que tudo indica, ainda estão longe de conseguirem ajudar alguém a perder peso de maneira mais fácil...
A boa notícia é que dá pra perder peso independemente da composição da dieta. Isso ajuda a evitar restrições e a montar um  cardápio de acordo com as preferências pessoais do paciente.
Então, não se deixe enganar pela dieta da moda, das celebridades... aquela regrinha básica que manda ter bom senso, moderação, priorizar alimentos pouco processados, cozinhar em casa e manter uma vida ativa ainda será a melhor opção por um bom tempo.

Fonte:
Gardner, C.D. et al. The DIETFITS RCT. JAMA, 2018.

Dr. Mateus Dornelles Severo
 Médico Endocrinologista
Doutor em Endocrinologia
CREMERS 30.576 - RQE 22.991

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